quarta-feira, 24 de março de 2010

Portugal derruba euro, moeda única cai 1%


O Governo diz que o corte do 'rating' coloca ainda mais pressão na aprovação do PEC pelo Parlamento amanhã.

Jornal Económico (por Eudora Ribeiro, 24/03/10 15:35)

O euro está a sofrer a maior queda num mês, penalizado pelo corte de 'rating' de Portugal e por receios renovados em torno da crise grega.

Bolsas, euro e matérias-primas estão a sofrer com uma nova vaga de receios dos investidores em relação à saúde dos países do sul da Europa.

Isto depois de a agência de 'rating' Fitch ter hoje descido a avaliação da dívida de longo prazo portuguesa de 'AA' para 'AA-' e com os temores de que a União Europeia não consiga, sozinha, ajudar a Grécia, visto que Alemanha e França estão mais perto de chegar a acordo sobre um pacote de ajudas via FMI.

"A Grécia vai entrar em incumprimento em algum momento" e o falhanço da Europa na resposta a este desafio vai penalizar a moeda única, explica Paul Donovan, especialista do UBS, à Bloomberg.

A moeda única europeia seguia a recuar 1,16% para negociar nos 1,33 dólares, o que correspondo ao pior desempenho desde 17 de Fevereiro.

O euro está agora em mínimos de Maio do ano passado, numa altura em que também as bolsas europeias seguem no vermelho. Já o PSI 20 recuava 1,23%, apenas com três títulos a conseguirem resistir às quedas: Portucel, Semapa e Jerónimo Martins.

Também o índice CRY, que acompanha as principais matérias-primas, recuava mais de 1,5%

terça-feira, 9 de março de 2010

Actividade sísmica que abala o Mundo é «coincidência»


Sismo de 6.0 na escala de Richter abalou hoje a Turquia (Cortesia: USGS)

in Ciência Hoje (2010-03-08)

Especialista garante que não há explicação científica nem motivos para alarme

Ainda esta madrugada um terramoto de grau 6.0 na escala de Richter acordou a Turquia. O Chile está devastado com o sismo de 8.8 de magnitude do mês passado. Ao violento sismo 7.0 registado em Janeiro no Haiti, soma-se um semelhante no Japão durante o mesmo mês.

A terra não tem parado de tremer mas Maria da Conceição Neves, especialista em Sismologia da Universidade do Algarve, garantiu à Lusa que a actividade sísmica que se tem registado nos últimos meses um pouco por todo o mundo é “perfeitamente normal” e uma “coincidência”.

O sismo que por volta das 4h30 da madrugada sacudiu a província de Elazig, no leste da Turquia, a 500 quilómetros de Ancara, terá feito pelo menos 51 mortos e 70 feridos, números ainda provisórios que poderão aumentar no decorrer das buscas.

Para a investigadora, o facto de haver uma sequência de sismos violentos − sendo o do Chile o mais raro, por haver poucos com aquela magnitude − é apenas uma "coincidência" no tempo e no espaço, já que os abalos têm ocorrido sobretudo em zonas povoadas.

Escalas de milhões de anos

"Mais de 90 por cento da actividade sísmica situa-se ao longo das cristas oceânicas onde não há estragos", referiu a investigadora, frisando que as zonas de subdução (área onde duas placas tectónicas convergem) estão "sempre" a ser atingidas.

"Não me parece que haja mais sismos agora do que havia antes, são fenómenos naturais que estão sempre a acontecer", considerou, acrescentando que o facto de se viver numa era global contribui para que estes acontecimentos sejam mais falados.

"Não há um motivo científico para explicar um maior número de sismos, até porque as escalas geológicas têm por referência períodos de milhões de anos", disse a investigadora, frisando não haver "motivo para alarme".


Placas tecnónicas estão em constante movimento

Um sismo por ano como o do Chile


in DN (por FILOMENA NAVES, HUGO MADURO 2010.03.09)

Rede sismográfica mundial regista em média 20 mil sismos ao ano. Cerca de 150 acima de 6 na escala de Richter

Primeiro foi o Haiti, depois o Chile e ontem a Turquia. No intervalo de poucas semanas, a terra tremeu violentamente em diferentes regiões do mundo, afastadas entre si por milhares de quilómetros, deixando um rastro de destruição e centenas de milhares de vítimas mortais e de desalojados. Ainda ontem, um sismo de grau 6 na escala de Richter abalou a zona de Elazig, no Leste da Turquia, vitimando pelo menos 51 pessoas (ver pág. 23). A pergunta impõe-se: será que os sismos estão a aumentar?

"Não", diz taxativo o director do Centro de Geofísica D. Luís da Universidade de Lisboa, Miguel Miranda. E explica: "O número de sismos de grande magnitude, desde que há registos, tem-se mantido relativamente estável de ano para ano."

No seu site, a US Geological Survey (USGS), a agência dos Estados Unidos para o estudo da Terra, dá a mesma resposta, na sequência das "muitas solicitações" que lhe chegam "de pessoas de todo o mundo, perguntando se os sismos estão a aumentar", lê-se ali.

"Embora possa parecer que há mais sismos, os de magnitude 7 [na escala de Richter] ou mais têm-se mantido constantes", explica a USGS. Ou seja, os sismos de grande magnitude, acima dos 7 graus na escala de Richter, que são potencialmente mais destruidores, não têm aumentado.

Os registos sismográficos indicam isso mesmo. Se se considerarem, por exemplo, as três últimas décadas, ocorreram em média, anualmente, quase 140 sismos com magnitudes de 6 a 6,9 graus na escala de Richter, 17 com magnitudes de 7 a 7,9 graus e apenas um com mais de 8 graus na mesma escala. E esta tendência tem-se mantido constante. Vale a pena, então, fazer outra pergunta: porque parece haver mais sismos ultimamente?

A USGS adianta uma resposta: "Nos últimos 20 anos tivemos um crescimento substancial no número de sismos que conseguimos localizar, devido ao tremendo aumento no número de estações sismográficas a nível mundial e aos muitos desenvolvimentos nas comunicações globais."

Em 1931 existiam em todo o mundo 350 destas estações, enquanto agora há mais de oito mil. E esta rede global consegue registar em média 20 mil tremores de terra por ano (50 por dia), sendo que a esmagadora maioria não atinge os 6 graus na escala de Richter. Acima deste valor, como já se viu, ocorrem em média pouco mais de centena e meia de abalos sísmicos por ano no mundo.

Para a USGS, esta é também uma questão de maior percepção por parte do público, devido à globalização da comunicação e também a um maior interesse por parte das pessoas em questões ambientais e desastres naturais.

De resto, como explicou ao DN Miguel Miranda, "não há nenhuma aceleração do movimento das placas, nem aumento da actividade sísmica". E sublinha: "Se todos os meses houvesse um sismo como o do Haiti, poderia dizer-se que a actividade sísmica está a aumentar, mas não há nada que indique isso."

Fazendo contas, e confiando na estatística, o grande sismo do ano já ocorreu. Foi o de dia 27 de Fevereiro, no Chile, que atingiu a magnitude de 8,8 na escala de Richter e causou 799 mortos, sendo considerado um dos cinco mais fortes desde que há registos. Mas prever este tipo de fenómenos ainda não é possível à ciência de hoje.

Drama da Madeira previsto 7 dias antes


CM (09 Março 2010 - 00h30 - André Pereira)

Meteorologia: Professor alertou para falhas no Instituto

O Governo estava avisado das limitações técnicas dos sistemas utilizados pelo Instituto de Meteorologia (IM) e das consequências da má previsão meteorológica. A afirmação é de Delgado Domingos, professor catedrático no Instituto Superior Técnico (IST), coordenador do grupo de Previsão Numérica do Tempo, que responsabiliza o IM pelas consequências da catástrofe registada há três semanas na ilha da Madeira. O catedrático acusa o presidente do IM, Adérito Serrão, de "falta de conhecimentos técnicos". O IM lamenta a "utilização das vítimas para promoção de um produto".

Na origem da polémica está o trabalho de Delgado Domingos, também membro da Sociedade de Meteorologia Americana, no qual recorre a dados obtidos pelo modelo utilizado no IST sete dias antes da catástrofe na Madeira. Segundo o próprio, "teria sido possível às autoridades alertar as populações, usando o mesmo modelo do IST para o continente, e preparar os meios de socorro mais adequados".

Desde António Guterres, garantiu ao CM Delgado Domingos, que "os governos têm vindo a ser alertados para a possibilidade de qualquer dia haver uma situação de catástrofe devido ao sistema utilizado no Instituto". "O resultado foi zero. O que me escandaliza é que já não é dinheiro que se perde, mas sim vidas", acrescentou, criticando Adérito Serrão: "O actual presidente é um gestor sem os conhecimentos técnicos de um meteorologista. É o único interlocutor no caso da Madeira e diz um monte de disparates. Até se perdoa a um gestor, mas ele fala em nome do Instituto e é inadmissível que invoque um lugar administrativo para se arrogar a uma competência científica que não tem."

Adérito Serrão não se encontra no País. A resposta chegou via comunicado. O Instituto de Meteorologia "lamenta a utilização das vítimas resultantes do temporal da Madeira para promoção de um produto".

PORMENORES

MODELO DO IST

Entre os modelos usados no Técnico estão o MM5 e o WRF, os mesmos do serviço de meteorologia norte-americano.

SERVIÇO GRATUITO

Segundo Delgado Domingos, os dados do IST estão em http://meteo.ist.utl.pt.

DISCURSO DIRECTO

"O PRIMEIRO ALERTA TERIA SIDO EMITIDO DIA 14", Delgado Domingos, Professor do IST e membro da Sociedade de Meteorologia Americana

Correio da Manhã – Como funciona o modelo de previsão meteorológica do Instituto Superior Técnico (IST)?

Delgado Domingos – Este modelo não foi inventado no IST. É um modelo público, também utilizado pelo Serviço Nacional de Meteorologia norte-americano. O mais avançado modelo de previsão meteorológica, que o AROME [utilizado pelo Instituto de Meteorologia português] tenta imitar. Consegue prever situações com sete dias de antecedência. Quando se registam valores acima de determinados parâmetros, é emitido um pré-aviso automático, com a indicação de que há algo a merecer uma melhor observação. De seis em seis horas, essa informação é confirmada.

– Como garante que podia ter previsto a catástrofe na Madeira com sete dias de antecedência?

– O que fiz foi reconstituir, com os dados do dia 14, o que se teria passado na Madeira, se tivesse aplicado o mesmo modelo que usamos para o continente. Qual não foi o nosso espanto quando verificámos que no primeiro dos sete dias antecedentes já se previa que, até dia 20, a precipitação acumulada ultrapassaria os 500 mm. Se a Madeira estivesse no nosso sistema de previsão, o primeiro alerta teria chegado às autoridades por volta das 08h00 do dia 14, sob a forma de um email para os serviços responsáveis, alertando para uma situação preocupante. Com quatro dias de confirmações e observação de satélites, no dia 17 o nosso sistema teria recomendado um alerta vermelho.

– Qual a razão de a Madeira não estar no vosso sistema?

– Porque ainda não pediram. Se me for pedido, poderei demonstrar este modelo de forma gratuita para a Madeira e Açores.

– Quem são os beneficiários do serviço de previsão do IST?

– Faço a previsão de ventos para a REN, devido à energia eólica, e para a Protecção Civil de Lisboa.