terça-feira, 29 de dezembro de 2009

ECONOMIA: Clientes do BPP mantêm-se nas instalações da sede, no Porto


in TSF (29 DEZ 2009, 07:18)

Doze clientes do Banco Privado Português (BPP) mantêm-se nas instalações da sede da instituição, no Porto, decididos a prosseguir «até poderem» o seu protesto e reclamando uma solução que lhes permita acederem às poupanças que têm no banco. Do fim da tarde e da madrugada, sobram queixas sobre o comportamento da Polícia de Segurança Pública.

Um dos clientes do BPP, Júlio Fonseca, assegura que a PSP tem sido «dura» face aos protestos nas instalações do banco. O cliente Fernando Carneiro garante ter sido agredido por um agente da PSP com gás mostarda.

Doze clientes do BPP permanecem, esta terça-feira, na sede do banco do Poro. O grupo era de dezasseis pessoas no início da manhã desta tareça-feira e mantém-se dentro das instalações desde a tarde de ontem, altura em que dezenas de pessoas invadiram as instalações para reivindicar o acesso às suas poupanças no banco.

Ao fim da tarde de protesto, a maior parte dos clientes saiu para se abastecer de alimentos mas, no regresso, a polícia já não os deixou regressar. De acordo com um dos clientes do BPP, Júlio Fonseca, a Polícia de Segurança Pública (PSP) foi «dura» nesse momento, garantindo mesmo ter sido atacado com gás mostarda.

«Nós estávamos no banco e resolvemos ir tomar um café. Depois do café voltámos ao banco e a entrada foi-nos vedada pela polícia. De facto, fizemos um pouco de força para entrar e foi quando fomos agredidos com gás mostarda. Foi uma coisa completamente desproporcionada em relação à nossa acção», critica o cliente.

As queixas sobre o comportamento da PSP face ao protesto acumulam-se. Um outro cliente do BPP, Fernando Carneiro, garante ter sido expulso pela polícia da instituição bancária enquanto recebia mantimentos que havia solicitado com autorização dos agentes.

«Fui agredido cerca da uma e meia da manhã quando pedi ao comissário Tiago Gonçalves que me deixasse entregar alimentos de fora porque havia pessoas com bastante idade. Ele disse-me que sim e quando eu me aproximei do portão que estava semi-aberto para receber os alimentos, empurrou-me brutalmente expulsando-me do banco», relata Fernando Carneiro.

O cliente do BPP assegurou ter ficado «com um dedo ferido», pelo que pretende «apresentar queixa do agente» responsável pela alegada agressão.

Entretanto, a PSP avançou à Agência Lusa a informação de que os clientes que se encontram na sede do BPP têm acesso a bens essenciais como medicamentos e alimentos básicos, o que contraria o que tem vindo a ser dito pelos clientes que ainda estão dentro do banco.

Os manifestantes iniciaram na segunda-feira um protesto no interior da sede do banco no Porto, onde pretendiam manter-se indefinidamente, prometendo não desmobilizar até à apresentação de uma solução definitiva para as suas poupanças.

De acordo com o BPP, citado pela Agência Lusa, o «pequeno grupo» acedeu às instalações «a pretexto de uma reunião que estava marcada entre um desses clientes e uma gestora do banco» e terá agido «à revelia das associações de clientes constituídas».

Terão recebido ordem de evacuação cerca das onze horas, depois de «proferirem várias ameaças aos colaboradores do banco» e, já a meio da tarde, alguns «forçaram o portão de entrada nas instalações, impedindo dessa forma qualquer tipo de controlo sobre entradas e saídas».

Depois de ter tentado, «sem sucesso, estabelecer pontes de diálogo» com o grupo, a administração «solicitou às autoridades policiais que interviessem no sentido de repor a legalidade, promovendo a retirada das pessoas que ocupavam a instituição».

Os clientes do BPP já se manifestaram no interior da sede do BPP por várias vezes. No mês passado, aí se concentraram para assinalarem os 12 meses que passaram desde que o Banco de Portugal negou o pedido de financiamento de João Rendeiro.

Foi a 24 de Novembro de 2008 que Vítor Constâncio anunciou que o Banco de Portugal deu parecer negativo ao pedido de garantias estatais para um financiamento de 750 milhões de euros ao BPP, solicitado por João Rendeiro, levando à intervenção das autoridades no banco, que actualmente ainda se mantém.

TEMPORAL: Clientes sem luz não vão ser indemnizados










EDP não se responsabiliza pelos danos causados aos 350 mil clientes que ficaram às escuras neste Natal por se tratar de situação excepcional.

in DN (por Amadeu Araújo e Filipa Ambrósio de Sousa) 29 DEZ 2009

Os 350 mil portugueses que passaram estes dias de Natal sem luz não vão receber qualquer indemnização pelos danos causados. Quem o assume é a própria empresa EDP, que ontem explicou que a lei não obriga a ressarcir os danos quando são causados por situações excepcionais. Neste caso, a situação excepcional foi "o forte temporal que assolou a região Oeste com ventos na ordem de 220 km/hora".

A empresa admite, porém, que poderá assumir os custos dos prejuízos dos clientes, ainda não calculados, associados a falhas ocorridas na reparação de avarias."Não há redes no mundo que possam suportar os ventos desta intensidade", explicou Ângelo Sarmento, administrador da EDP distribuição, acrescentando:. "Mas ainda não estão sequer estimados os custos dos danos causados aos clientes" da região oeste do País.

Ontem às 19h00, a empresa ainda estava a regularizar a situação de 280 clientes que não tinham energia nas suas casas.

Perante este cenário, nem as associações de consumidores conseguem proteger os interesses dos utentes. Segundo a jurista da Associação para a Defesa do Consumidor (DECO) a EDP "pode alegar motivo de força maior para recusar o pagamento de indemnizações. Carolina Gouveia lembrou, no entanto, "o dever de compensar por quem teve falhas na prestação de serviço" e sugeriu que "fosse feito através de acertos na facturação mensal".

Também a Associação dos Consumidores de Portugal (ACOP) concorda que "nos contratos com a EDP está prevista a interrupção do fornecimento por motivo fortuito ou de força maior, pelo que dificilmente os clientes serão ressarcidos".

Ainda assim as associações aconselham os clientes a "inventariar os prejuízos e reclamar junto da EDP". Mas para a Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil) houve incúria da parte da EDP., tendo em conta que a resposta "foi lenta e demorada". Critica da qual a Protecção Civil, em comunicado, fez ontem questão de se demarcar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Manoel de Oliveira comemora hoje 101 anos de vida


101 anos? “Não me apetece nada falar sobre isso”
in i online (por Ana Caridade, Publicado em 11 de Dezembro de 2009. Exclusivo i / Grande Porto)

Sobe os degraus das escadas dois a dois e diz, com um ar sério, que é para poupar o joelho. A fragilidade na rótula é a única maleita física que se lhe conhece, e mesmo esta, não apareceu com a idade.

Manoel de Oliveira comemora hoje 101 anos, e conta com a jovialidade que todos lhe conhecem, que o episodio que lhe molestou a rótula aconteceu quando, aos 12 anos, teve um acidente com o irmão no ringue de patinagem das Termas de Pedras Salgadas. “Estive oito dias na cama com a minha mãe a pôr-me toalhas de água quente no joelho. Há dias em que estou melhor, outros em que estou pior”. Ontem era um dos bons. O realizador estava na Casa da Memória de Vila do Conde, onde amanhã inaugura a exposição “Manoel de Oliveira/José Régio – Releituras e Fantasmas”.
A mostra, organizada pelo Museu de Serralves, divide-se por várias salas e a visita guiada conta com o molhar a tento do realizador. Vêem-se projecções de filmes directamente influenciados por José Régio, ou porque foram feitos a partir de livros seus, ou porque tiveram como base textos que Régio deu a conhecer ao amigo Oliveira. António Preto, comissário da exposição e estudioso da obra do mestre, diz que a amizade intelectual entre o escritor e o cineasta é “uma das mais bonitas do século XX”, uma afirmação que pôs Manoel de Oliveira a pensar naqueles tempos em Vila do Conde, onde o grupo se estendia para além de Régio e Oliveira. “Os amigos foram desaparecendo. Com muita tristeza e muita melancolia vi-os partir. Eram pessoas a quem devo muito do que sou hoje”. Sentimentos que percorrem quem vive há mais de um século, mas que no caso de Manoel de Oliveira, não sobressaem.
A cada projecção de um filme seu detém-se como quem o vê pela primeira vez. António Preto explica a razão da escolha. Ele não ouve. Só olha. Mas não com o olhar contemplativo do criador orgulhoso. Antes com visão crítica, quase pronta a criticar. João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, tenta espicaçar-lhe o humor e, em jeito de provocação, diz-lhe que uma cena do “Mon Cas” parece a de um filme mudo, a acrescenta, já a rir: “A verdade é que o Manoel já fazia cinema na altura dos filmes mudos”. A resposta veio pronta. “O cinema nasceu como um sonho; sem som e sem cor”. E todos se calaram.
Disse que não lhe apetecia falar do aniversário, mas admitiu que a exposição que inaugura amanhã, “é um belo presente”. Agradeceu a quem tinha que agradecer, deu um autógrafo, cumprimentou todos… Pôs o chapéu, pegou na bengala, e foi almoçar.

Hoje e amanhã

Para além da exposição de Vila do Conde, que inaugura às 16h00 de amanhã, Serralves tem outras actividades preparadas para hoje, dia em que se comemora o 101º aniversário de Manoel de Oliveira. No Auditório de Serralves irão decorrer duas sessões do filme Aniki-Bobó, às 11h00 e às 14h00. Esperam-se cerca de 400 alunos de escolas do Porto. Na sessão da tarde, e por iniciativa das escolas, os alunos vão estar vestidos como os protagonistas do filme (“Carlitos” e Teresinha”) e vão cantar a lengalenga “Aniki-bébé / Aniki-bóbó / Passarinho Tótó / Berimbau, Cavaquinho / Salomão, Sacristão / Tu és Polícia, Tu és ladrão", uma fórmula que, nas brincadeiras de crianças do filme, serve para determinar quem faz de polícia e quem faz de ladrão.

Mediterrâneo levou dois anos para encher


in DN (11.12.2009 por Bruno Abreu) Afinal não foram precisos 10 mil anos para o Mediterrâneo encher. Uma equipa de cientistas espanhóis fez um estudo e concluiu que um período de entre uns meses e dois anos foi o necessário, isto devido à força da água do Atlântico, que caiu de uma altura de um quilómetro e meio. O Mediterrâneo esteve quase a secar há cerca de seis milhões de anos.

Afinal a previsão dos cientistas estava errada: não foram precisos de dez a 10 mil anos para encher o mar Mediterrâneo, mas apenas uns meses ou no máximo dois anos. Esta é uma das principais conclusões de um estudo do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) de Espanha, que foi ontem publicado na revista científica Nature.

A descoberta deu--se quando os investigadores analisaram uma cratera de 200 quilómetros de comprimento perto do Estreito de Gilbraltar. Ao estudar dados sísmicos, para perceber de que forma a erosão tinha sido feita, acabaram por conseguir estimar o tempo que demorou a encher aquele mar.

Os cientistas detectaram ainda que a descarga de água que preencheu o espaço vazio chegou a ser mil vezes superior ao actual rio Amazonas, dizem os cientistas.
O mar Mediterrâneo esteve quase a secar há seis milhões de anos, ao ficar isolado dos oceanos durante 350 mil anos, devido ao actual levantamento tectónico do Estreito de Gibraltar. As águas do oceano Atlântico tiveram, então, de encontrar um novo caminho através do Estreito. Quando o descobriram encheram o Mediterrâneo com a maior e mais brusca inundação que a Terra jamais conheceu, segundo contam os investigadores espanhóis.

A enorme descarga de água aconteceu quando o istmo que liga a África à Europa se abateu. O desnível de ambos os mares, com um quilómetro e meio, fez encher o Mediterrâneo ao ritmo de até dez metros diários de subida do nível do mar. A inundação que ligou o Atlântico ao Mediterrâneo provocou no fundo marinho uma erosão de cerca de 200 quilómetros de comprimento e vários quilómetros de largura, segundo indica o estudo.

Foi neste período de até dois anos que o mar se encheu com 90 por cento da água que tem actualmente. O investigador do CSIC, Daniel García-Castellanos, que trabalha no Instituto de Ciências da Terra Jaume Almera, em Barcelona, disse que "a inundação que pôs fim à dessecação [processo de secagem extrema] do Mediterrâneo foi extremamente curta e mais do que assemelhar-se a uma enorme cascata, deve ter consistido numa descida mais ou menos gradual desde o Atlântico até ao centro do mar de Alborán".

Segundo o investigador, tratou--se de um "megarrápido" por onde a água circulou a centenas de quilómetros por hora.

Os cientistas desenvolveram um modelo que explica como os lagos montanhosos "deixam rapidamente de existir", quando a erosão produz rios que permitem que essa água seja drenada.

Geólogos estavam errados

Quando há uns anos os engenheiros pretendiam construir um túnel que unisse a Europa à África, tiveram de fazer estudos sobre o subsolo do Estreito de Gibraltar. Foi então que se depararam com um rego de várias centenas de metros de profundidade, que tinha sido enchido por sedimentos pouco consolidados. Os geólogos e geofísicos nos anos 90 pensaram erradamente que esta enorme erosão tinha sido causada por algum rio de grande caudal durante a dessecação do Mediterrâneo.

"Esperamos que o artigo contribua, em certa medida, para planear as obras do túnel para unir a Europa a África", declarou García-Castellanos.

Neste sentido, o investigador explicou que o trabalho se baseia em boa parte nos estudos preliminares deste projecto, "muito condicionado pela presença desse canal erosivo" que é relacionado com a inundação".