sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Manoel de Oliveira comemora hoje 101 anos de vida


101 anos? “Não me apetece nada falar sobre isso”
in i online (por Ana Caridade, Publicado em 11 de Dezembro de 2009. Exclusivo i / Grande Porto)

Sobe os degraus das escadas dois a dois e diz, com um ar sério, que é para poupar o joelho. A fragilidade na rótula é a única maleita física que se lhe conhece, e mesmo esta, não apareceu com a idade.

Manoel de Oliveira comemora hoje 101 anos, e conta com a jovialidade que todos lhe conhecem, que o episodio que lhe molestou a rótula aconteceu quando, aos 12 anos, teve um acidente com o irmão no ringue de patinagem das Termas de Pedras Salgadas. “Estive oito dias na cama com a minha mãe a pôr-me toalhas de água quente no joelho. Há dias em que estou melhor, outros em que estou pior”. Ontem era um dos bons. O realizador estava na Casa da Memória de Vila do Conde, onde amanhã inaugura a exposição “Manoel de Oliveira/José Régio – Releituras e Fantasmas”.
A mostra, organizada pelo Museu de Serralves, divide-se por várias salas e a visita guiada conta com o molhar a tento do realizador. Vêem-se projecções de filmes directamente influenciados por José Régio, ou porque foram feitos a partir de livros seus, ou porque tiveram como base textos que Régio deu a conhecer ao amigo Oliveira. António Preto, comissário da exposição e estudioso da obra do mestre, diz que a amizade intelectual entre o escritor e o cineasta é “uma das mais bonitas do século XX”, uma afirmação que pôs Manoel de Oliveira a pensar naqueles tempos em Vila do Conde, onde o grupo se estendia para além de Régio e Oliveira. “Os amigos foram desaparecendo. Com muita tristeza e muita melancolia vi-os partir. Eram pessoas a quem devo muito do que sou hoje”. Sentimentos que percorrem quem vive há mais de um século, mas que no caso de Manoel de Oliveira, não sobressaem.
A cada projecção de um filme seu detém-se como quem o vê pela primeira vez. António Preto explica a razão da escolha. Ele não ouve. Só olha. Mas não com o olhar contemplativo do criador orgulhoso. Antes com visão crítica, quase pronta a criticar. João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, tenta espicaçar-lhe o humor e, em jeito de provocação, diz-lhe que uma cena do “Mon Cas” parece a de um filme mudo, a acrescenta, já a rir: “A verdade é que o Manoel já fazia cinema na altura dos filmes mudos”. A resposta veio pronta. “O cinema nasceu como um sonho; sem som e sem cor”. E todos se calaram.
Disse que não lhe apetecia falar do aniversário, mas admitiu que a exposição que inaugura amanhã, “é um belo presente”. Agradeceu a quem tinha que agradecer, deu um autógrafo, cumprimentou todos… Pôs o chapéu, pegou na bengala, e foi almoçar.

Hoje e amanhã

Para além da exposição de Vila do Conde, que inaugura às 16h00 de amanhã, Serralves tem outras actividades preparadas para hoje, dia em que se comemora o 101º aniversário de Manoel de Oliveira. No Auditório de Serralves irão decorrer duas sessões do filme Aniki-Bobó, às 11h00 e às 14h00. Esperam-se cerca de 400 alunos de escolas do Porto. Na sessão da tarde, e por iniciativa das escolas, os alunos vão estar vestidos como os protagonistas do filme (“Carlitos” e Teresinha”) e vão cantar a lengalenga “Aniki-bébé / Aniki-bóbó / Passarinho Tótó / Berimbau, Cavaquinho / Salomão, Sacristão / Tu és Polícia, Tu és ladrão", uma fórmula que, nas brincadeiras de crianças do filme, serve para determinar quem faz de polícia e quem faz de ladrão.

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