terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Hackers chineses atacaram Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal

in PÚBLICO ONLINE (10/12/2013 - 09:12)

Numa altura em que os olhos sobre a espionagem têm estado centrados nas informações divulgadas por Edward Snowden sobre a forma de actuação da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, um novo relatório vem alertar que há outros problemas que estão longe de estar controlados: um grupo de hackers chineses conseguiu entrar no sistema informático dos ministérios dos Negócios Estrangeiros de cinco países diferentes, entre os quais Portugal, diz o New York Times.

Além de Portugal, de acordo com o New York Times, os países visados foram a República Checa, Bulgária, Letónia e Hungria. Os ataques, diz um relatório da empresa de segurança informática californiana FireEye, terão começado em 2010 e sido feitos de forma reiterada. Os países não são mencionados no documento mas, pelos endereços de e-mail no site dos hackers, o jornal diz ser possível avançar os cinco alvos e uma fonte da investigação confirmou-os ao New York Times.

Nart Villeneuve, que colaborou com a FireEye na investigação, adiantou que o trabalho deste grupo de pirataria informática tem um padrão diferente, já que os alvos não foram comerciais mas sim governamentais, o que pode indiciar tratar-se de uma campanha afiliada do Estado chinês.

Villeneuve tinha no ano passado colaborado com uma empresa de segurança de Tóquio na investigação sobre um conjunto de ataques a empresas no Japão e na Índia e diz que os autores dos ataques aos ministérios dos Negócios Estrangeiros foram altamente selectivos. A investigação recebeu o nome de “Ke3Chang”, depois de terem percebido que os hackers introduziam malware (software malicioso) através do e-mail.

De início, o grupo enviava um e-mail aos seus alvos com um link onde dizia existirem fotografias de Carla Bruni, a mulher do antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy, nua. Bastava alguém clicar no endereço para os hackers conseguirem instalar-se no computador e respectiva rede informática, sendo que os investigadores não perceberam que ficheiros foram afectados.

O mais perto que conseguiram chegar foi em Agosto, quando a FireEye conseguiu infiltrar-se durante uma semana nos servidores do grupo, identificando 21 alvos diferentes, incluindo os cinco ministérios. As vítimas eram sempre pessoas com acesso privilegiado a conteúdos dos mesmos. No total, não se sabe quantos afectados haverá e a quantos mais computadores chegaram.

Rob Rachwald, investigador sénior da FireEye, disse também ao New York Times que os ataques por parte da China a ministérios dos Negócios Estrangeiros de outros países não são inéditos, sendo mesmo uma prática corrente para obter de forma antecipada informação, por exemplo, sobre questões policiais relacionadas com o país.

O jornal norte-americano contactou os vários ministérios, sendo que o de Portugal foi um dos que não respondeu.

NOTA: Relatório foi feito nos EUA e jornal New York Times diz que ministérios da República Checa, Bulgária, Letónia e Hungria também foram visados.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Cientistas descobriram fractura tectónica em formação ao largo da costa portuguesa

in Público Online (Por Ana Gerschenfeld - 18/06/2013 - 10:43)

Após os grandes terramotos de 1755 e 1969 em Portugal, já se suspeitava que algo estivesse a acontecer no fundo do Atlântico, próximo da Península Ibérica. Agora, cientistas portugueses, australianos e franceses afirmam ter descoberto os primeiros indícios desse fenómeno.

A descoberta de uma zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação, ao largo da costa de Portugal, acaba de ser anunciada por um grupo internacional de cientistas liderados por João Duarte, geólogo português a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália.

A confirmar-se que o fenómeno, em que uma placa tectónica da Terra mergulha debaixo de outra, está mesmo a começar a acontecer, como concluem estes cientistas num artigo publicado online pela revista Geology, isso significa que, daqui a uns 200 milhões de anos, o oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e as massas continentais da Europa e América a juntar-se num novo supercontinente.

João Duarte e a sua equipa de Monash, juntamente com Filipe Rosas, Pedro Terrinha e António Ribeiro, da Universidade de Lisboa e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera – e ainda Marc-André Gutcher, da Universidade de Brest (França) – detectaram os primeiros indícios de que a Margem Sudoeste Ibérica – uma margem “passiva” do Atlântico, isto é, onde aparentemente nada acontecia – está na realidade a tornar-se activa, explica em comunicado aquela universidade australiana. A formação da fractura foi detectada através do mapeamento pelos cientistas, ao longo de oito anos, do fundo do oceano nessa zona.

“Detectámos os primórdios da formação de uma margem activa – que é como uma zona de subducção embrionária”, diz João Duarte, citado no mesmo comunicado.

E o investigador salienta que a actividade sísmica significativa patente naquela zona, incluindo o terramoto de 1755 que devastou Lisboa, já fazia pensar que estivesse a produzir-se aí uma convergência tectónica.

A existência desta zona de subducção incipiente ao largo de Portugal poderá indiciar que a geografia dos actuais continentes irá evoluir, ao longo dos próximos 220 milhões de anos, com a Península Ibérica a ser empurrada em direcção aos Estados Unidos. Este tipo de fenómeno já terá acontecido três vezes ao longo de mais de quatro mil milhões de anos de história do nosso planeta, com o movimento das placas tectónicas a partir antigos supercontinentes (como o célebre Pangeia, que reunia todos os continentes actuais) e a abrir oceanos entre as várias massas continentais resultantes.

O processo de formação da nova zona de subducção deverá demorar cerca de 20 milhões de anos, fornecendo aos cientistas uma “oportunidade única” de observar o fenómeno de activação tectónica.