terça-feira, 11 de janeiro de 2011

'Devemos estar preparados' para a vinda do FMI


in Sol Online (Por Manuel Agostinho Magalhães - 10 de Janeiro, 2011)
«Devemos estar preparados», respondeu Cavaco Silva na última das entrevistas dos candidatos presidenciais à RTP, quando questionado sobre a intervenção do FMI em Portugal. E sobre as mais valias de 140% na venda das suas acções do BPN, disse que na altura nem ficou a saber, porque o banco reinvestiu o dinheiro.

Na entrevista à RTP, concedida no mesmo dia em que uma administradora do Banco de Portugal, Teodora Cardoso, defendeu as virtudes da ajuda externa, Cavaco sublinhou as suas desvantagens, já que «o FMI não conhece a realidade social portuguesa».

O PR antes sugeriu ao Governo uma «alternativa»: a venda de activos para pagar dívidas contraídas pelo Estado. Deu como exemplo a recente alienação do fundo de pensões da PT para propor ao Governo que estude a hipótese.

Sobre a polémica com a sua posição accionista no BPN, o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS, disse que na altura em que vendeu as acções com 140% de lucro desconhecia as mais valias que obteve. Porque não era ele a movimentar as suas poupanças e o dinheiro foi imediatamente reinvestido.

«Nem fiquei a saber quanto eram as mais valias porque eles fizeram uma aplicação em fundos estrangeiros com uns nomes esquisitos», disse a Judite de Sousa.

Já em relação às críticas que fez à actual administração do BPN, Cavaco disse agora que não eram «pessoais» mas ao «modelo» de gestão que foi escolhido. O PR disse que se queria referir a decisões como «a separação dos activos tóxicos» ou a injecção de mais capital no banco, que agora o Governo admite fazer.

O Presidente da República que se recandidata a mais um mandato não quer «especular» mas admite a necessidade de recorrer em breve ao «fundo de estabilização europeu, que pode vir acompanhado» do FMI.

«Devemos estar preparados para que possa acontecer eventualmente alguma coisa», começou por responder. «Nunca devemos excluir», reiterou, completando que acredita que «o governo não exclua» a hipótese nesta altura, «embora esteja a fazer tudo o que está ao seu alcance».

Caso haja intervenção externa, Cavaco diz que fará tudo «para ajudar Portugal». E apontou a necessidade de haver união, perante os necessários sacrifícios, ou «condicionantes», como preferiu chamar-lhes.

«Gostaria que pudéssemos manter um clima de coesão», disse. «É importante que haja um diálogo de forças políticas com forças sociais». Mas Cavaco teme os efeitos da intervenção externa.

Afiram recear que «esses analistas, que vêm da União Europeia e que podem vir do FMI, não tenham um conhecimento da situação social portuguesa» pelo que fará o que puder para que tal não seja necessário.

E começou por dar sugestões: «Podem existir alternativas», para pagar as dividas. Portugal «pode vender activos», afirmou duas vezes, dando como exemplo a recente alienação na PT.

Em relação ao cumprimento do défice orçamental, Cavaco foi claro: Sócrates tem de apresentar resultados imediatamente e se o FMI entrar em Portugal, falhou. «Isso é muito claro. O Governo anunciou o objectivo ao Presidente e ao povo português». Mas, desdramatizando as afirmações anteriores («foi uma frase banal»), o candidato não quis extrair consequências ao nível da estabilidade governativa.

Já no cumprimento do défice é mais directo. «É fundamental haver resultados no primeiro trimestre» para cumprir os limites do défice, afirmou a Judite de Sousa, na entrevista gravada ao final da tarde na Batalha, e transmitida esta noite na RTP1.

«BPN: Eu era um mísero professor»

Em relação ao lucro que obteve com as acções que detinha com a mulher no BPN, a instituição gerida por Oliveira e Costa, seu ex-secretário de Estado, que será agora julgado por fraude, Cavaco Silva repetiu que agiu honestamente.

Aplicou o dinheiro quando não ocupava nenhum cargo público, dando indicações ao seu gestor para que o colocasse da forma mais lucrativa possível.

«Eu era um mísero professor», disse. «Andámos a amealhar as nossas poupanças para a velhice», justificou.

Garantiu que as acusações de favorecimento que lhe são apontadas pelos adversários são feitas de má fé.

«Eles sabem todos eles que sou de um rigor total em relação ao cumprimento da lei», disse. Por isso ficou desiludido com pessoas «por quem tinha algum respeito», não referindo o nome de Manuel Alegre ou de outro candidato.

Judite de Sousa insistiu nas perguntas sobre o caso, questionando-o se não tinha desconfiado de um lucro de 140% na venda de acções não cotadas na bolsa. Cavaco revelou que a sua relação com as poupanças era intermediada.

Disse também que não foi convidado para accionista, simplesmente pediu aos gestores do BPN: «Apliquem por forma a dar o máximo de rendimento». E foi a conselho da mulher que vendeu as acções, em 2003, mantendo o dinheiro no banco mais uns anos. «Nunca discuti um preço quando comprei nem quando vendi nem soube a quem vendi», afirmou.

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